Antes de começar a escrever este texto refleti muito em como ele poderia chegar às mentes de algumas pessoas, principalmente às das mulheres, como todo assunto relacionado à beleza a mente feminina é empolgantemente indecifrável pois, ainda que estejam indiscutivelmente lindas elas encontram espaço para criticar um ponto ou outro de seu corpo, como se fosse possível aperfeiçoar aquilo que já é perfeito. Por isso peço desculpas antecipadas se atingir uma ou outra opinião em contrário, mas acho de suma importância atentar para tal reflexão, visto a perda recente da vida de uma mulher linda e com uma carreira maravilhosa pela frente, só porque ela ainda não estava satisfeita com a beleza que já possuía.
Nossa sociedade chegou a um ponto de materialismo desenfreado, um consumismo doentio que passou das coisas materiais mesmo, para o próprio corpo humano. Desse modo, milhões de pessoas no mundo, em sua maioria mulheres, se aventuram a mudar aquilo que Deus lhe deu de mais lindo que são suas belezas individuais e buscam as mais "recentes tendências da cirurgia plástica" para satisfazerem um ego não próprio delas, mas amplificado pela mídia que massacra, tanto às mulheres como a nós homens, com padrões inatingíveis de beleza. Ou seja, como disse Herbert Viana, há pouco de "lipo-as" e muito de "pirações" nas cabeças das pessoas. A quem querem satisfazer? Em conversas mais reservadas já ouvi respostas das mais absurdas possíveis, como por exemplo: "Ah, mas os homens praticamente exigem que a mulher tenha seios grandes hoje em dia." Hein? Como? Ou então que "Eu precisava disso para elevar minha auto-estima." Auto-estima se eleva no consultório de psicanálise, com anos de terapia, não numa cirurgia, ademais, ainda que momentaneamente a mulher se sinta "mais poderosa", em pouco tempo, caso ela já não se sentisse segura de si antes(e se ela se submeteu ao implante já era óbvio que não se sentisse assim), ela volta ao momento anterior de baixa-estima pois as coisas que nos fazem sentir bem, não são as coisas exteriores, mas sim as que aquecem nosso coração e nos engrandecem a alma. Mas lógico não estou falando dos casos em que o implante é necessário e prescrito por médicos, estou falando dos casos estéticos. O que me incomoda é que as mulheres reclamam sempre que nós homens as vemos como objeto, mas em todos os casos em que eu conheço de mulheres que, ou fizeram lipo-aspiração ou colocaram silicone nos seios, nenhum deles foi uma exigência do parceiro, aliás, a grande maioria das que eu conheço (e isso não vale como estatística, mas apenas como exemplo) eram solteiras, ou seja, tomaram a decisão individualmente. Me incomoda também que, não raro, os padrões de beleza impostos pela mídia nem sempre são os padrões que nós homens realmente desejamos. Quem disse que queremos magrelas altas e de seios fartos? Eu e muitos amigos meus não deixariam de se apaixonar por uma mulher só porque ela tem seios pequenos, aliás abro parenteses aqui para confessar que a maioria pelas quais me apaixonei, senão todas, tinham seios pequenos. Quanto à lipo-aspiração essa sim é abominável, como pode alguém fazer uma cirurgia da qual tudo pode se perder em um fim de semana menos regrado ou com uma bela churrascada com os amigos? É só piração mesmo, ainda mais com os riscos, afinal não é um penteado novo, uma bolsa nova, é abrir seu corpo, cortar, mexer, remexer, sedar, anestesiar, reacordar ou, como no caso da jornalista de Brasília, não acordar mais. E pra quê? Há alguma dúvida de que aquela moça era linda? E, além de linda, não que isso seja um padrão mas já que era essa preocupação dela mesma, há alguma dúvida de que ela era magra? Nada justifica o erro médico e esse deve ser severamente punido, mas isso trará de volta a vida dela? Antes de nos preocuparmos com coisas externas temos que nos preocupar com o que nos levou a essa "piração" global em busca dessa beleza, pois enquanto embelezamos nossos corpos, as nossas almas se sentem só e confusas. Mas quem sou eu pra julgar? Quem sou eu pra dizer? Por isso transcrevo o belo texto de Herbet Viana, e o faço para não ser criticado sozinho, e esse é o máximo que me preocuparei com meu ego:
Pelo amor de Deus, eu não quero usar nada nem ninguém, nem falar do que não sei,nem procurar culpados, nem acusar ou apontar pessoas,
mas ninguém está percebendo que toda essa busca insana pela estética ideal é muito menos lipo-as e muito mais piração?
Uma coisa é saúde outra é obsessão.
O mundo pirou, enlouqueceu.
Hoje, Deus é a auto-imagem. Religião é dieta.
Fé, só na estética. Ritual é malhação.
Amor é cafona, sinceridade é careta, pudor é ridículo,sentimento é bobagem.
Gordura é pecado mortal. Ruga é contravenção.
Roubar pode, envelhecer não. Estria é caso de polícia. Celulite é falta de educação.
Filho da puta bem sucedido é exemplo de sucesso.
A máxima moderna é uma só: pagando bem, que mal tem?
A sociedade consumidora, a que tem dinheiro, a que produz,
não pensa em mais nada além da imagem, imagem, imagem.
Imagem, estética, medidas, beleza. Nada mais importa.
Não importam os sentimentos, não importa a cultura, a sabedoria, o relacionamento, a amizade, a ajuda, nada mais importa.
Não importa o outro, o coletivo.
Jovens não tem mais fé, nem idealismo, nem posição política.
Adultos perdem o senso em busca da juventude fabricada.
Ok, eu também quero me sentir bem, quero caber nas roupas, quero ficar legal, quero caminhar correr, viver muito, ter uma aparência legal mas…
Uma sociedade de adolescentes anoréxicas e bulímicas, de jovens lipoaspirados, turbinados aos vinte anos não é natural. Não é, não pode ser.
Que as pessoas discutam o assunto. Que alguém acorde. Que o mundo mude. Que eu me acalme. Que o amor sobreviva.
"Cuide bem do seu amor, seja ele quem for"